quinta-feira, 4 de julho de 2013

O clown e o meu espaço...

14 de junho de 2013.


No caminho para o hospital, como sempre, fiquei olhando pela janela da vã na tentativa de apreender o desconhecido, o que estava por vir. Lembrei-me da ida anterior, quando recomeçamos depois das férias, das dificuldades de retornarmos com o trabalho do hospital depois de um considerável tempo sem praticar a arte da palhaçaria. Acorda Buff! Desisti de pensar. Percebi que não adiantava dar uma de Charles Xavier e tentar prever coisa alguma, apenas me deixei levar. Fiz do vestiário do hospital meu pequeno templo, deixei a pressa de lado e fiz de cada momento um instante sagrado de calma, esqueci o relógio e a ansiedade. No entanto, não me larguei - antes me capturei abrindo bem os olhos, os ouvidos e o coração. Deixei todo e qualquer peso a mais (nesse dia deixei até a bolsinha que a Buff ganhou de presente). Não tive medo da mudança, do inesperado e simplesmente fui. Descobri que é mais leve e gostoso quando não esperamos nada, quando se pensa menos e se experimenta mais. Que o silêncio é essencial, tanto quanto o som. Catei algumas palavras no ar e as repeti dando a elas outro sentido: a certa altura peguei o bonde andando e escutei alguém falar “ser humano” em alguma conversa. Foi um ótimo momento para cumprimentar quem passava pelo corredor através de um “Oi, ser humano”. Achei forte e oportuno, pois no hospital é preciso estar sempre atento ao outro, percebê-lo como igual... Aprendi também que é possível nascer rindo e não apenas chorando. Aprendi isso com a Ri-tinha! A Ritinha é uma garota risonha, como o próprio nome diz. Nasceu para sorrir. Ela riu de tudo, da enfermeira que disse que ela não podia rir quando nos viu entrar no quarto e o melhor sua risada é que ela é eterna , não acaba nunca. Fiquei surpresa e muito contente, quase a convidei para trabalhar com a gente no Pediatras do Riso. Ri-tinha é uma palhaça inata, tem nome de palhaço, riso de palhaço, força de palhaço... Fiquei comovida, tive certeza: o riso é mesmo engrandecedor. Meu coração ficou grande, não coube mais no meu peito. Virou um balão e flutuou pelos corredores da pediatria, pelos quartos... Encontrei então o menino que caiu de cima do seu cavalo Moreno e pensei em todo mundo que de um jeito ou de outro já caiu do cavalo um dia...

Por Débora Helena (com a ajuda da Buff!)

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