terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

"A vida é uma longa despedida de tudo aquilo que a gente ama" Vitor Hugo

Eu tenho grande dificuldade em abandonar (e ser abandonada, mas isso não vem ao caso), escrever essa despedida já um ato falho e difícil, falho porque tenho a sensação de que não conseguirei exprimir em palavras tudo que eu jamais poderei viver, difícil porque sempre que eu penso no assunto o peito aperta, os olhos marejam e eu logo desisto de abandonar. Mais nem minha teimosia, nem minha dificuldade em abandonar e aceitar mudam o fato de que meu tempo aqui acabou. Acabou porque os ponteiros do relógio da vida anda correndo, apressado e apertado. Porque as escolhas que eu fiz e as que a vida fez por mim me levam pra longe daqui. Essa semana eu decidi, me despeço. Com dor, com saudade, com medo. Me despeço, sem cerimônia, sem beijos e abraços. Me despeço sem de fato poder me despedir do espaço. Me despeço das lembranças que me acompanharão por essa vida... Bom, sem rodeios e já rodeando muito não encontro palavras pra dizer o quanto foi feliz nos meus 4 anos de Pediatras, então escrevo simples assim: como eu fui feliz nos meus 4 anos de Pediatras. Sofri muito. Chorei muito. Aprendi muito. Tudo foi excesso, talvez por isso a dificuldade em despedir. Como eu fui muito feliz é difícil me deixar ir e deixar de acreditar que eu não mais seguirei a linha amarela, vermelha ou verde ou azul ou preta. Que as sextas-feiras eu não mais andarei de perua. Que eu não mais sentirei frio na barriga ao pedir pra entrar em algum quarto. Que eu não mais lavarei minhas mãos quantidade suficiente de vezes pra um mês inteiro em uma única tarde. Que eu não encontrarei sorrisos. Lágrimas. Abraços. Que eu não mais implorarei por um sim. Que eu não terei mais que aprender a lidar com um não. A primeira coisa que eu aprendi na minha primeira visita foi ficar o tempo necessário, não mais, nem menos, mas o tempo necessário. E aqui estou eu, não me permitindo ir... a primeira lição, a mais dolorosa, a mais difícil. Ficar o tempo necessário. Bom. Por isso me vou. Agora e sem demoras. Carrego comigo tudo que eu vivi, e deixo pra vocês tudo o que eu não viverei. Só peço (como na canção) não deixe o Pediatras morrer, não deixe o pediatras acabar ... Eu poderia descrever aqui cada bom momento, mas isso só me faria querer não ir 

 (fica aqui meu mais sincero e singelo agradecimento ao Yuji/Floyd que foi meu primeiro parceiro, minha primeira dupla, quem me despertou pra mágica. Alba/Prateleira que foi com quem eu mais convivi, com quem eu mais aprendi, com quem eu mais me emocionei, com quem eu mais me diverti, passei aperto, lutei, chorei, ri, aprendi de novo, enfim, eu amo a Alba e a Prateleira. Welerson/Walace Ice (deve ser assim) que foi sempre um espelho, um palhaço maravilhoso, um ótimo estagiário/coordenador, que eu sempre tinha medo de ser dupla com ele, porque eu sempre acreditei que ele era muito bom e que eu nunca conseguiria fazer dupla com ele, pra mim era quem super entendia dos paranauês de ser palhaço, meio ídolo pra mim. Diego/Pampa, outro né, que eu morria de medo de fazer dupla e depois que fiz me perguntei porque não fiz dupla com ele antes, a generosidade em pessoa, palhaço excelente, daqueles que a gente quer ser igual quando crescer. E todos os outros atores/palhaços que eu compartilhei bons e maus momentos, que cresceram junto comigo, pessoas que eu aprendi a respeitar no dia-a-dia, na labuta do hospital, nas idas de ônibus, nas apresentações no R.U. Wesley/Pietro, Bárbara, Thábatta/Tata, Marcella, Carol, Maria Cláudia, Barbara/Gueta. E aqueles novos que eu tive o prazer de jogar em um ou outro dia Deivid/SóBrown, Guilherme/Pierre. E a todos os palhaços e palhaças que fizeram, fazem e farão parte do projeto Kátia, a melhor psicóloga que eu pude ter no projeto. Gisele, que eu peguei só o finalzinho, mas carrego no coração. Aos chefes das UTI’S Infaltil e Adultado, aos enfermeiros, aos carregadores, aos limpadores, aos médicos, aos pacientes, aos acompanhantes, aos cozinheiros, aos lavadores, aos psiquiátricos e todos e tudo que me atravessou e permitiu que eu fosse muito feliz. Obrigada! E adeus) 

 Como Fred Carvalho escreve na monografia “um dia temos que nos despedir de todos e isso tem que começar a fazer parte da gente” (ou algo nesse sentido) 

 Obrigada! Obrigada! Obrigada! E obrigada! E obrigada infinitas vezes e ao além...